domingo, 11 de agosto de 2013


A morte deixa um sabor a nada. A boca seca, a mente pára, a compreensão não compreende. Fica um vazio estúpido, um porquê sem resposta. É de um egoísmo grande: eu não volto a ver esta pessoa, eu não volto a ouvi-la, eu não volto a apreciá-la. Mas é assim. Quando alguém nos morre, leva-nos uma porrada de coisas.
Ontem morreu um homem muito bom. Não é por ter morrido que o digo. Disse-o antes. Felizmente também a ele, algumas vezes. Talvez pudesse ter dito mais. Partilhámos o palco; a excitação que antecede a entrada em cena - aquilo que leva tanta gente a ser actor -  aproxima-nos como poucas coisas. Porque então estamos nus, verdadeiramente nus, e aí conseguimos ver a verdade no outro. A verdade dele era ternura. Disponibilidade, respeito e lealdade. Um homem ainda novo, mas antigo nalgumas coisas. No respeito pelos outros, um espírito anacrónico.
Costumava dizer olá rapariga, viva rapaz, adeus rapariga.
Adeus rapaz... A quem é que eu me despeço de ti?

1 comentário:

  1. Você tem um dom. Articula o humor e o amor como não vi muitas vezes. Não sei se já li alguma coisa sua, não sei sequer quem é. Se não li, fico à espera.

    ResponderEliminar