terça-feira, 12 de novembro de 2013


lit.

Meteu-se no elevador absorto, o edifício que descia a hipnotizá-lo. Ou era ele que subia. A julgar pelo ânimo era o mundo que passava, ele quieto. Parede, porta, parede, porta, parede, porta, parede, a porta.
Atravessou com fome o corredor até ao número 43, deixou a máscara e entrou no silêncio da casa.
Fixou-se no reflexo à janela enquanto fazia o jantar, duas latas de atum à espera num prato enquanto o ovo cozia. Mas não encontrou um homem. Não um, uno; um como em três terços, oito oitavos, treze treze avos.
Jantou ausente, levantou a mesa numa coreografia maquinal e lavou a louça em crescente astenia, na desconstrução violenta de quem se percebe fracção.
Não se recorda se lavou os dentes, nem se tomou os comprimidos.
Mas lembra-se de adormecer na certeza de que viver por viver tivesse sido em verdade consigo. Pudesse a brevidade do Acto ter encorajado urgência em ser autêntico. Talvez então não se tivesse vendido até não se reconhecer mais num reflexo. Talvez hoje fosse um, inteiro. Talvez.
Talvez o arrependimento fosse, ainda a tempo, o primeiro passo noutra direcção.

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