terça-feira, 30 de julho de 2013


Uma moça que emprateleira produtos no supermercado igual à Anne Hathaway.
A decisão de lhe perguntar a ela pelo que procurava.
A abordagem decidida, olhos nos olhos, "Boa tarde, sabe dizer-me onde estão os piaçabas?".
A imediata e dolorosa consciência de que perguntei "Boa tarde, sabe dizer-me onde estão os piaçabas?".
Não há maneira de fugir à repulsa pictórica dum piaçaba, meus amigos.

quinta-feira, 25 de julho de 2013


Reagiu hoje com um certo enfado paternalista um senhor ministro, recentemente empossado, a uma questão acerca do seu percurso profissional. A jornalista trouxe à baila - a marota - o facto deste ter sido presidente do conselho superior de uma holding proprietária dum banco que depois de anos de fraudes fiscais de toda a espécie foi nacionalizado pelo estado, com a injecção a fundo perdido da bonita quantia de quatro mil milhões de euros. Mas não é tudo mau: admitiu perante as câmaras ter a consciência totalmente tranquila. E pronto, está encerrada a questão. Agora adeus que se faz tarde e tenho o chofer à espera.
...
Nos últimos tempos o número de gente ministeriável e deputável a admitir consciência totalmente tranquila tem pululado com assinalável vigor.  O que brinda os telespectadores com momentos de refrescante espirituosidade: como se eu, gajo, declarasse solenemente ter o útero em perfeitas condições ou os ovários em excelente estado.

segunda-feira, 22 de julho de 2013


Elimine os pelos superfulos.
Alguns cartazes publicitários mereciam prémios. Fui a rir a viagem toda.

quinta-feira, 18 de julho de 2013


Hoje assisti de primeira plateia a um casal que se queixava para a televisão, um tanto choroso, da actual dificuldade em comprar a comida básica. As prioridades são o que são, cada um tem as suas e a hierarquia de um raramente coincide com a de outro. Verdade. Mas tendo a interpretar a falta de dinheiro para alimentação como o fim da linha. Quando o jornalista que recolhia o testemunho cavou um pouquinho mais, encontrou minhoca: são ambos fumadores (ele mais dum maço por dia, ela quase um). Cheira-me que é comportamento para orçar mensalmente nuns bons duzentos e cinquenta euros. Por cada palerma destes há outro que passa mesmo fome, mas a farsa dos primeiros acaba por legitimar para muitos a cultura de austeridade, o que é uma tristeza.

quinta-feira, 4 de julho de 2013


Há dias em que me cai em cima um estafa misantrópica dos diabos. Peço ao universo uma pausazinha de um dia ou dois, para arrebitar, mas o universo não me liga peva. E faz ele bem, mas que cansa cansa.
Devíamos ter uma semaninha por ano para sermos outra coisa que não Homo sapiens sapiens. À nossa escolha. Eu aproveitava a ocasião para ser Spheniscus demersus. Gosto à brava de pinguins.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

 
O sentido de humor.
É isso.
É no sentido de humor dos outros que lhes sopeso o valor. Que lhes tiro as medidas à sensibilidade, à inteligência e ao carácter.
Há quem se impressione com o poder. A mim seduz-me a capacidade de fazer rir, o espírito pontudo, a articulação irónica de um predicado. Por mais extensa a colecção de símbolos de status a que alguém se dedique, se não for mordaz não me impressiona.
Num homem é coisa para estimular uma tertúlia noite adentro. Com um tinto em copo de balão na esplanada dum hotel ou a virar Frisumo e bolachas numa estação de metro. Pouco importa. É um daqueles prazeres de difícil descrição.
Numa mulher é coisa para estimular uma tertúlia noite adentro. Mas logo algo mais. Algo mais profundo se inicia aí. O sentido de humor de uma mulher cai-me em cima como ao Bocage a boca, os olhos e as mamas da amada.
O humor é uma coisa plural que se farta. Tende a amarrar-me aquele que surge com sprezzatura, que não é baixo, que versa de forma desnecessariamente articulada uma trivialidade qualquer. O que carece de senso, sendo literário.
Como qualquer pirâmide de valores que reja a nossa apreciação do próximo a que corooa o sentido de humor é obviamente contestável, mas porventura preferível a uma que premeie símbolos de status mais mundanos, como a fama ou o dinheiro. A menos que esse dinheiro tenha comprado um Ford GT40 de 64; nesse caso o próximo é obviamente o maior e nada do que eu disse atrás se aplica.